domingo, 7 de abril de 2013

Rascunho de um quase amor.

   
   
     Acordei enrolada em uma colcha de retalhos de mentiras e desapontamentos. Acordei de toda aquela ilusão que me aconchegava maternalmente tentando me desviar dos medos e das frustrações que se por acaso eu topasse com a verdade sentiria. Abri os olhos e me libertei daquela coberta suja e doentia que cobria meu corpo por inteiro quase me fazendo sufocar. Eu não sentia mais minha pernas, quase não mais andava sozinha. Queimei aquela coberta encardida de palavras proferidas pela sua boca ainda mais desprezível e doente. Quebrei a redoma de vidro craquelado que você insistia em construir ao meu redor. Arranquei o antolho que você colocou sobre meus olhos para que eu fosse, sem direito a escolha, obrigada a olhar só para você. Deixei agora no passado o que tanto almejei como presente. Presente esse que mal consegui abrir, um presente que se escondia tão bem sob o embrulho que quase tive a certeza de que nunca cheguei a conhecer. Presente que se tornou passado por ter tanta gana no futuro. 
     Sozinha nesse quarto escuro penso em milhares de maneiras de expressar toda a indignação existente dentro do meu peito e todas as palavras que estão aqui engasgadas e que foram engolidas com sensação de navalha. Sinto dentro de mim uma vontade gigantesca e quase incontrolável de me jogar no mundo, de viver meus antigos planos, reviver meus esquecidos sonhos. De esquecer tudo que aconteceu nesse nosso tempo. Mas como esquecer o que fantasiava o inesquecível? Fantasia surreal que beirava a idealização de um romance quase perfeito. Quebrado e partido com as palavras mais ásperas e traiçoeiras que meus ouvidos podiam escutar. Tenho nos olhos lágrimas de uma tristeza profunda, uma tristeza que vem de dentro pra fora. Como se tudo que eu mais acreditasse no mundo fosse desmascarado e exposto sem censura. Como se você se desmontasse na minha frente a cada palavra pronunciada, como se a cada frase um pouco do eu que conhecia você fosse embora sem olhar para trás. Como se eu tivesse segurando na mão um punhado de areia que escorregava lentamente entre os dedos até que não sobrasse se quer mais um grão. 
     O que sobrou de nós agora esta guardado num baú de madeira maciça com fechaduras de cobre. O que restou de nós não existe mais. És agora para mim uma memória, real ou não de um quase amor. Um amor rotulado precipitadamente, talvez sem culpa, talvez totalmente culpado. Palavras ditas da boca pra fora por um menino que calculava o que diz. Mas, de fato, quem sabe? Acredito que nem ao menos cheguei a conhecer você, e piamente acredito que nem você consiga se compreender.
     Boa sorte pra mim,
     boa sorte pra você. 

terça-feira, 19 de março de 2013

Desabafo de um eu quase sempre solitário


Antes de tudo que pudesse nos fazer chorar, antes de tudo que pudesse nos fazer desistir, eu mantive a esperança. Mantive a calma disfarçada em choro. Entre os soluços que rasgavam minha alma, eu cruzava os dedos para que nada que fosse dito pudesse me fazer desmoronar ainda mais. Dentro de mim guardo sonhos indecifráveis, guardo frases de efeito que nunca tive a oportunidade de usar, guardo um punhado de segredos, um precipício de medos inacabáveis, guardo também um pouco de ti. Não por inteiro, porque só posso guardar aquilo que tenho. Tenho dentro dos olhos um brilho opaco, uma retina esperando para ser polida e cuidada. Tenho nas mãos o encaixe que espera por teus dedos. Tenho na pele o arrepio profundo e intenso que só teus lábios podem provocar, e, dentro do peito, uma fenda obscura que insiste em manter-se viva. Me tornei um abismo de perguntas sem respostas. Um despenhadeiro de ilusões. 
Mantive o sossego em meus sonhos, contemplei a calmaria nos teus abraços. Idealizei um garoto perfeito, desenhei em meus olhos filtros abençoados, os quais, abençoavam você. Tenho pra mim que você foi uma miragem divina dos meus sonhos interrompidos pela brutal realidade. Já tive a certeza de que encontrara um menino singular. Que de tão singular beirava a perfeição. Perfeição essa que de tão idealizada beirava o ilusório. Ilusão essa que de tão utópica beirava o enlouquecimento. Loucura essa que de tão real, enlouqueci. Enlouqueci por alguém que inventei, por alguém que me apaixonei sem perceber. E agora a cada passo dado um pouco de mim vai embora, vai embora por não saber mais em quem acreditar. Por não saber se vale a pena andar por todo o deserto a procura de um oásis, sem saber se o que vejo é real ou é miragem.  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um Adeus qualquer.


Enquanto a luz do quarto pisca devagar, meus olhos cansados descansam por segundos. Na escrivaninha, as folhas amarelas cheias de rabiscos dançam com o vento que entra pela janela aberta. Minhas costas doem enquanto meus pés balançam freneticamente num ritmo constante, e, sem que eu possa perceber continuo com o ziguezague por horas. Estralo meu punho esquerdo e levanto tão rápido que quase ouso cair. Meus olhos pesam, minhas pernas não me obedecem mais. Caminho lentamente até a varanda, onde as rosas vermelhas maltratadas gritam por socorro, mas sem pena finjo que não as vejo ali. Lá fora, bailarinos encantam multidões com seus rodopios perfeitamente sincronizados. Amigos se abraçam, casais se acariciam. Quase da pra ver os corações formados ao redor dos apaixonados. Continuo ali, anestesiada pela brisa fria e pelo cheiro de terra molhada. Esfrego os braços na esperança de me aquecer sozinha. Escuto no fim da rua gatos brigando, panelas batendo, pessoas chamando por atenção. Olho ao redor. 
O mundo continua. Minha vida continua. 
Saio da varanda com um pensamento inoportuno. Dos meus olhos saem lágrimas que não sei de onde vêm. Caminho depressa até o quarto. Sufoco a cabeça sob o travesseiro na esperança de não escutar meus pensamentos. Tentativa em vão. Olho ao redor. Estou completamente sozinha, na companhia de milhões de frases gravadas na memória dos livros de auto-ajuda que li e reli por toda a semana. Balanço a cabeça como quem espanta os pensamentos. Corro ao chuveiro, na expectativa de afogar meu choro, de lavar minha alma. Mais uma tentativa falha. Enxugo as lágrimas. Engulo o choro. Molhada deixo meus últimos passos marcados no chão, no percurso até a cozinha. Respiro fundo. Ligo o gás. Tranco a porta. Puxo uma cadeira. Adormeço sem perceber e não acordo mais.
O mundo continua. Minha vida não.

1/2 sem você.


Éramos dois adolescentes rindo ao acaso. Gargalhando da cara do destino que tanto nos sacaneava. Formávamos um belo casal. Os dois contribuindo parcialmente para uma esquisitice completa. Tínhamos nos olhos algo indecifrável, alguma coisa que nos fazia conectar e sentir a mesma coisa. Você, tinha nas mãos o poder de me mudar. Ao seu lado o mundo ficava pequeno, os olhares alheios não doíam, as pessoas tornavam-se menos assustadoras e eu perdia o medo do mundo. Era como se o seu abraço formasse em minha volta um escudo dourado, como se o seu corpo me fortalecesse. 
As vezes, eu não sabia se tinha mais saudade de você ou de como eu me sentia ao seu lado. Você era especial. Especial de uma forma especial. Tá me entendendo? Você me trazia luz, alegria. Você trazia o melhor de mim, você queria o melhor de mim. Esse nosso destino/acaso/consequência esperou o tempo certo pra fazer dar certo. Mas, não importa se éramos certos do jeito errado ou completamente errados do jeito mais certo do mundo. 
Era exatamente assim que eu gostava que fosse.
É exatamente assim que eu espero que sejamos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Na beira de um amor.


    E lá estava ela, mais uma vez totalmente sem máscaras. Frágil como um passarinho que acabou de descobrir que pode voar sozinho. Ela ria em frente aos espelhos e tinha em si um medo gigantesco, do escuro e do eco que sua gargalhada fazia. Mas ela ria de verdade, sem medo disso. Sem medo dela mesma. Sem medo do que ela poderia concluir a seu respeito. Observava sua imagem e sorria sozinha, iluminando sua face mesmo na escuridão. E lá estava ela achando graça de tudo que observava. Achando engraçado o som único que a risada dela tinha.
    Ele olhava pra ela como se não precisasse compreendê-la, e ela gostava disso. Dessa despreocupação que o espelho tinha como qualidade forte. Se ela sorria, ele sorria também. Ela não queria entrar em outro daqueles jogos que ninguém sabe por onde começar, nem que fim pode ter, nem que regras devem seguir. Ela só queria ser ela mesma, com todos os erros que ela sempre cometia. Já estava sozinha a tanto tempo que sua singularidade beirava a perfeição, mas seu amor próprio deixava a desejar. Ela se sentia covarde por não deixa-se amar outra alma além da sua. Ela nunca precisou de nada disso. Agora só queria poder sorrir para ela mesma, fingindo que estava tudo bem. Ela nunca precisou de nada disso, repetia, pois quem sabe assim ela não precisasse de verdade.



Eu-tenho-muito-medo.


- No que você tá pensando? 
- Eu estou pensando em nada. 
    Ah, se esse meu nada falasse tudo que é, e, se esse meu tudo se resumisse em nada, eu estaria livre de nós dois. De toda essa complicação emaranhada que eu mesma criei. Porque você é tão simples, não é? Você é do tipo que tem certeza do que quer. E eu aqui, presa nessa minha confusão que sempre me leva para baixo, que sempre me arrasta para o escuro. Eu e essa minha mania de confundir os outros e acabar confundindo a mim mesma. 
    Ah querido, eu queria te levar para passear num mundo interno. No mundo dos meus desejos, onde os meus sonhos criassem vida e interagissem com você. Só assim eu saberia exatamente o que dizer, além de todas essas minhas frases clichê que já não te comovem mais. Mas me perdoe, por todo esse meu jeito torto e errado. Não sei mais pra onde fugir, pois cansei dessa minha mania feia de querer matar o que somos, de querer enterrar o que sinto. Eu sinto o mesmo que sempre senti por você, meu bem. E eu não quero mais esconder isso. 
    E esse é todo o meu problema. Sim, problema. Eu-tenho-muito-medo. Sabe quando eu não consigo olhar nos teus olhos? Quando não consigo gritar com você? Eu-tenho-medo disso também. Tenho medo de encarar meus desejos. E por isso eu acabo sempre te ferindo, magoando o pouco de mim que vive dentro de você, numa forma toda torta de não ferir a mim mesma, de um jeito todo errado de não querer me envolver. De guardar a 7 chaves o que sobrou do meu amor. Do que sobrou de mim. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Tic/tac.

Meus pés balançam incontrolavelmente junto com minhas mãos que suam devagar. O tic-tac do relógio assemelha-se com uma navalha que perfura meu tímpano e tenta me ensurdecer. Me sinto como uma bailarina quebrada dentro de uma caixinha de música, rodando freneticamente sem ir a canto algum. A vontade de pisar em você, como quem pisa numa ponta de cigarro para apagá-la, se diz cada vez mais nítida no meu consciente. Não consigo mais abafar o som dos gritos no travesseiro surrado. Olho pro espelho procurando encontrar uma resposta através daquela imagem imperfeita, mas acabo criando ainda mais dúvidas e incertezas perante minhas perguntas. Jogada sob o assoalho, reviro os olhos para os pensamentos inoportunos e me sinto frágil e fria, como uma porcelana esquecida no porão de uma casa antiga. O sangue sobe pelas orelhas e se concentra nas maçãs do rosto que agora esfriam devagar, minhas mãos se acalmam e cruzo os dedos, na esperança de tudo voltar a ser como antes. Antes de eu ter conhecido você.